Ano: 2015/ Páginas: 304
Editora: Arqueiro


Sinopse: Victoria Jones sempre foi uma menina arredia, temperamental e carrancuda. Por causa de sua personalidade difícil, passou a vida sendo jogada de um abrigo para outro, de uma família para outra, até ser considerada inapta para adoção. Ainda criança se apaixonou pelas flores e por suas mensagens secretas. Quem lhe ensinou tudo sobre o assunto foi Elisabeth, uma de suas mães adotivas, a única que a menina amou e com quem quis ficar...até por tudo a perder. Agora aos 18 anos e emancipada, ela não tem para onde ir nem com quem contar. Sozinha, passa as noites numa praça pública, onde cultiva um pequeno jardim particular. Quando uma florista local lhe dá um emprego e descobre seu talento, a vida de Victoria parece estar prestes a entrar nos eixos. Mas então ela conhece um misterioso vendedor no mercado de flores e esse encontro a obriga a enfrentar os fantasmas que a assombram.


Avaliação: 
  Que obra sensível, envolvente, emocionante e bela! Vanessa Diffenbaugh me surpreendeu muitíssimo com sua primeira publicação, pois é realmente fantástica. Podemos perceber o quanto a autora pesquisou e dominou bem os assuntos trabalhados na obra, principalmente em relação às flores e seus significados, não deixando faltar nenhum ingrediente para o enredo.
  O livro é narrado por Victoria com capítulos intercalados entre seu passado com sua última mãe adotiva Elisabeth e o presente a partir de sua emancipação. Conhecemos através de suas palavras e ações uma garota muito marcada pelas circunstâncias da sua vida. Passando de lar adotivo para lar adotivo ao longo de todos os seus primeiros dez anos de vida, Victoria se acostumou com a solidão e a rejeição. Depois da última tentativa de adoção – Elisabeth – a garota cresce em abrigos até completar 18 anos e passar a morar na rua por não ter com quem contar.
  A única pessoa que realmente teve significado em sua vida e que soube amá-la foi justamente essa última mãe adotiva. Elisabeth foi compassiva, paciente e muito carinhosa nos meses que estiveram juntas. Diferente de todos os lares que Victoria conheceu, em Elisabeth ela encontrou alguém que não desejava muda-la, não a espancava quando desobedecia e, acima de tudo, a compreendia. 

“Nada que aprontar será capaz de me fazer manda-la embora. Nada. [...] Saiba que minha resposta será sempre a mesma: eu te amo e vou ficar com você. Ok?”
 
  Nos capítulos narrados no passado, acompanhamos essa construção do relacionamento de mãe e filha. E um dos fatores que as aproximaram foi exatamente as flores e seus significados especiais. Elisabeth conhecia todo tipo de planta e usava-as para dar recados e transmitir mensagens, o que encantou a pequena Victoria, que logo começou a usar das flores para falar o que sentia também.
  Mesmo depois de pôr tudo a perder e magoar Elisabeth, Victoria não perdeu o hábito de observar as flores e usar delas para se comunicar com o mundo. Nos tenebrosos abrigos que foi obrigada a viver até sua emancipação, deixava as mensagens de ódio e raiva que tinham em seu coração. O que ela não esperava era ter que, mais tarde, usar das flores para mensagens de amor e perdão.
  Agora com 18 anos, sem emprego, família, dinheiro e lugar para morar, Victoria passa a dormir na rua. Acostumada com a adaptação e situações extremas, ela não sente muito medo e não se preocupa com o destino de sua vida. Ela não fala, mas percebemos que ela nem vê sentido em sua existência. Acredita que merece tudo aquilo que está passando pelos erros que cometeu no passado e pelas pessoas que ela decepcionou.
 
“Cada decisão que eu havia tomado me conduzira até ali e eu queria mudar tudo: o ódio, a culpa e a violência. Quero almoçar com a menina revoltada que eu tinha sido aos 10 anos para alertá-la sobre essa manhã e dar-lhe as flores que a conduziriam por um caminho diferente.”

  E quando uma chance de ser feliz e encontrar seu lugar no mundo lhe é oferecida, Victoria não sabe como aproveitar nem como lidar com ela.
  Tudo começa com uma oferta de emprego em uma floricultura. Victoria, então, passa a ter dinheiro para dormir em um motel e, de quebra, pode trabalhar com aquilo que mais gosta. Aos poucos, os clientes da floricultura a descobrem e fazem pedidos especiais, de flores que possam mudar suas situações em função da mensagem contida nelas. Surpreendentemente, as flores começam a transformar a vida das outras pessoas: seus casamentos, suas auto estimas e por aí vai. 

  Até que um vendedor de flores aparece em sua vida e traz todo o seu passado de volta. Victoria não o reconhece logo de cara, mas ele a reconhece. E não desiste até conseguir conversar com ela. O vendedor não quer assombrá-la. Ao contrário, quer se aproximar dela e faze-la deixar o passado no passado. Mas Victoria não consegue fazer isso, e deixa a culpa contaminar novamente algo bonito e bom que a vida lhe estava oferecendo. 

“Você me entregou aquelas flores como se fossem um pedido de desculpas, embora não tivesse feito nada de errado e o buquê estivesse mais próximo da perfeição do que qualquer outro que eu tenha visto. Naquele instante eu soube que você se sentia insegura, que acreditava ter defeitos imperdoáveis.”

  Esse trecho acima de um diálogo entre um personagem e Victoria descreve perfeitamente o seu problema: ela acredita ter defeitos imperdoáveis. Acredita que nunca fará ninguém feliz, que nunca servirá para nada além de fazer buquês. Isso a impede de deixar qualquer pessoa se aproximar. E não se esperaria o contrário de alguém com sua história, mas Victoria precisa aprender a superar seus traumas e deixar coisas boas acontecerem com ela.
  Os dramas do processo adoção, do abandono familiar e do medo de amar e ser amado foram muito bem trabalhados e realmente me convenceram do porquê de Victoria ser como é. Tão próximo ao real que, quando conclui a leitura, senti uma vontade enorme de ir até a fazenda de flores para abraçar Victoria. Pois em nenhum momento senti que a história ou seus personagens eram superficiais ou surreais, senti como se pudesse conhece-los. Senti como se pudesse ser um amigo meu a viver tudo aquilo.
  Infelizmente, em muitos livros que leio, sinto que há muita incoerência com o real, muitos personagens de plástico. Precisamos admitir que no dia a dia raramente nossas conversas são cheios de frases filosóficas, profundas ou apaixonadas. Somos muito mais imperfeitos do que os livros descrevem.
  Mas em A Linguagem das Flores, as atitudes, os sentimentos e os diálogos são perfeitamente plausíveis. Isso porque o amadurecimento dos personagens não acontece da noite para o dia. O período que acompanhamos a vida de Victoria pós emancipação é de quase dois anos. Também não há estereotipagem, os sentimentos não surgem no primeiro olhar mas sim de longa convivência, e as marcas do passado não somem com mágica.  Com isso, foi impossível não me apaixonar pela beleza que há na simplicidade do cotidiano e nas falhas humanas. Uma história bela, eu afirmo, não é uma história sobre perfeição.  E perfeita é tudo que a história de Victoria não é.
  Recomendo esse livro para todos aqueles que gostam de uma leitura que lhe faz refletir. Essa obra não é para quem gosta de algo rápido e leve. É uma história profunda, para se ler com calma. Mesmo que em alguns momentos a indignação com a personagem fale mais forte, se aprende muito sobre auto perdão e segundas (ou muitas mais) chances.
 
 
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