Ano: 2014 Páginas: 232
Editora: Suma de Letras |
Sinopse: Alexi Littrell era uma
adolescente normal até que, em uma noite de verão, sua vida é devastada.
Envergonhada, a menina começa a se arranhar e a contar compulsivamente uma
tentativa de fazer a dor física se sobrepor ao sofrimento que passou a esconder
de todos. Ela só consegue sobreviver ao terceiro ano do ensino médio graças às
letras de música que um desconhecido escreve em sua carteira. As canções
parecem adivinhar o que o coração de Alexi está sentindo. Bodee Lennox nunca foi um
adolescente normal, mas agora é o menino que teve a mãe assassinada pelo pai.
Em seguida, ele vai morar com os Littrell, e Alexi acaba descobrindo que o
Garoto Ki-Suco, o quieto e desajeitado menino de cabelos coloridos, pode ser um
ótimo amigo. Em Um dia de cada vez, Alexi e Bodee, ao mesmo tempo em que fingem
para o resto do mundo que está tudo bem, passam a apoiar um ao outro, tentando
viver um dia de cada vez.
"Eu nunca pensei
que a vida pudesse ser tão drasticamente dividida, mas pode. E é. Só
existe o depois. E o antes."
Este, com toda a certeza, é um dos melhores livros que eu
tive o prazer de ler. Ao mesmo tempo que é agoniante, triste e doloroso,
envolve o leitor com uma história muito doce e bela. Enquanto o lia, senti
todas as emoções possíveis – raiva, dor, indignação, compaixão, esperança e
alegria. Me envolvi com o enredo de uma forma que eu não esperava. E terminei a
leitura com lágrimas nos olhos.
Antes que você imagine que esta história é carregada de
tragédias e abusa de parágrafos exageradamente emotivos, eu lhe corrijo: é uma
história sobre superação e esperança. Minha emoção não foi pelo drama do livro,
mas sim de pensar o quão comum é encontrar pessoas na mesma situação que os
personagens principais – Alexi e Bodee – mas que não encontram saída para seus
pesadelos e traumas.
Alexi Littrell é uma adolescente que possui tudo aquilo que
precisaria para ser feliz: melhores amigas, uma família carinhosa, um cunhado
atencioso e uma situação financeira boa. Mas algo traumático acontece com ela
em uma noite de verão, transformando-a em uma pessoa fechada, triste e
compulsiva por se arranhar para aliviar a dor das lembranças. O leitor somente
descobre o que realmente aconteceu nas últimas páginas, entretanto logo no
início podemos perceber o quanto foi ruim para Alexi aquela noite. E, por não
ter coragem de contar a alguém o que aconteceu, ela sofre sozinha e finge estar
tudo bem.
Não importa quanto eu
arranhe, as palavras continuam na minha cabeça. Se ao menos eu conseguisse
fazer o lado de fora doer mais do que o lado de dentro.
No início, não gostava das atitudes de Alexi. Mas quanto
mais lia, mais percebia como a autora foi brilhante e construiu uma personagem
muito próxima da realidade, que age exatamente como uma adolescente na situação
de Alexi agiria. Podemos entender perfeitamente suas escolhas erradas, seus
medos e seu silêncio. Pois Alexi se culpava por tudo que aconteceu e, como se a
culpa não fosse suficiente, sentia o peso de decepcionar e entristecer a
família se contasse a verdade.
E a única pessoa que parece entender seus sentimentos e que
poderia ser um bom ouvinte é um desconhecido. Alexi o chama de Capitão Letra de
Música: ele sempre escreve na classe dela letras de canções para serem
completadas. E, surpreendentemente, essas músicas sempre falam sobre o que
Alexi sente no dia. Mas não há nenhuma pista de quem seja esse cara, então a
única opção de Alexi é se contentar em ser consolada pelas músicas escolhidas
por esse misterioso amigo.
Então o querido Bodee Lennox entra para aumentar a bagunça
que é a vida de Alexi. Muito diferente dos personagens masculinos dos New
Adults atuais – que convenhamos, estão muito longe de algo real e crível –
Bodee é quieto, tímido, gentil e tem seu toque de esquisitice com o cabelo
pintado de uma cor de suco em pó diferente a cada dia. Apelidado desde pequeno
na escola por Ki-Suco, não tinha muito contato com Alexi e seu círculo de
amigos mesmo que frequentassem a mesma igreja e mesma escola. Até que tudo muda quando Bodee presencia o pai
matando sua mãe.
Sendo amiga da falecida, a mãe de Alexi oferece o sótão para
Bodee dormir por o período de tempo que for necessário, obrigando a família a
conviver com o estranho garoto Ki-Suco. E ninguém está mais incomodado que
Alexi, pois ela sabe que Bodee é o único que já percebeu suas cicatrizes de
automutilação nas costas. Além disso, ele a olha como se soubesse de todos seus
segredos e Alexi teme o quanto ele saiba realmente. Pessoas quebradas tem a
tendência de reconhecer facilmente outra também machucada.
O que Alexi e Bodee não esperavam é que se tornariam
elementos tão importantes para a cura um do outro. De maneira muito sutil,
silenciosa e doce, um vai entrando na dor do outro na esperança de alivia-la ao
dividi-la. Eles não precisam usar palavras para expressar seus traumas, ambos
sabem o que o outro sente. E da mesma maneira que sabem, apoiam-se um no outro
para caminhar em lentos passos em direção ao auto perdão e a superação. Alexi
era o que Bodee precisava para lidar com todo o horror que presenciou em sua
casa e Bodee era tudo que Alexi precisava para ter segurança de colocar todas
as cartas na mesa sobre seu segredo. A amizade linda e pura deles é o que os
levou a enfrentar seus tormentos.
Mas hoje é melhor do
que ontem. E essa dor ainda é um buraco em mim, mas é um buraco que está
diminuindo...
O Um Dia de Cada Vez traz uma mensagem linda de amizade,
companheirismo, perdão a si próprio e superação. A vida não é um conto de fadas
perfeito como muitos filmes e livros nos dizem. Haverá muitos momentos
difíceis, traumas, medos e mágoas. E não é por eles que devemos parar no tempo.
Devemos enfrentar um dia de cada vez com esperança e buscando apoio naqueles
que nos amam.
O silêncio também nunca será a solução. Para podermos
enfrentar nossos problemas precisamos confiar nas pessoas certas e deixa-las
nos ajudarem. Precisamos falar. Inclusive acharia esse livro recomendado para
ser trabalhado em escolas, para que não existam Alexis por aí sofrendo no
escuro do seu armário.
E para quem acha que esse livro é mais sobre romantismo e
amor que cura dores eu adianto que essa primeira impressão – que eu também tive
– não poderia estar mais errada. O
envolvimento de Alexi e Bodee é o mais puro, sincero, singelo e sem segundas
intenções. Eles serão o incentivo um do outro, não a cura. E se ficam ou
não juntos, o que não posso contar, é depois de amizade bem consolidada e muita
confiança. Não há amor à primeira vista, nem pessoas tão belas que parem ‘o
quarteirão’ e outras bobagens do tipo. A impressão que a autora me deixou é que
ela estive contando uma história tão real quanto a minha e a sua.
Na verdade, quase podemos dizer isso. Em suas notas finais a
autora confessa ter vivido um trauma parecido com o da Alexi. E não somente
isso, mas que também demorou para compreender a necessidade de trazer à tona
tudo que lhe aconteceu. O livro, ela conta, foi escrito para que outras pessoas
não cometessem o mesmo erro dela de ficassem em silêncio diante da dor. Não
poderia ser pessoa melhor para contar a história, né?! Quem viveu sabe como é. E
afirmo com todas as letras que a obra não poderia ser melhor e cumpriu muito
bem seu propósito de alertar os adolescentes de todo o mundo.